Império de Casa Verde fez seu segundo ensaio técnico no sábado(28), no sambódromo do Anhembi. A escola veio embalada ao som da bateria @barcelona do samba, rumo ao Carnaval 2023, Império dos Tambores – Um Brasil Afro-musical.
Confira algumas imagens do ensaio e para ver todas as fotos basta clicar no link abaixo:
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Carnaval 2023 – Enredo “Império dos Tambores – Um Brasil Afromusical” desenvolvido pelo carnavalesco Leandro Barbosa a agremiação será a 3a escola a desfila no Sambódromo do Anhembi na noite de Sábado (18 de fevereiro)
Eu vi o silêncio invadir a ciranda dos tambores.
Num torpor de suor, fascínio e sussurros, os dizeres assim ecoavam:
“Para o povo daquele Império cheio de encanto, peço que elevem nosso canto.
Batuquem por nossa tradição.
Batuquem por nossa força d’África. Batuquem por nossa forma de ritual. Batuquem por nossa musicalidade.
Batuquem”.
A ciranda seguia. Fui levada ao templo africano Himba e lá muitas verdades me foram reveladas. Quando uma mulher africana sabe que está grávida ela segue para a selva em silêncio com outras mulheres da aldeia. Juntas, elas batucam, meditam, ficam em transe até receberem o sinal da canção que deverá ser dedicada à criança. Todo novo menino e toda nova menina da África recebe uma música com seu ritmo dos atabaques que os acompanharão por sua grande jornada. Quando o portal se abre e a criança nasce, toda comunidade canta a sua canção. Quando ela inicia os estudos, o povo se junta e lhe cantam sua canção.
Quando se torna adulta e chega o momento de seu casamento, a pessoa novamente escuta a sua canção e finalmente, quando chega a hora de sua partida, a mulher mais velha da comunidade abre o ritual, puxa o ponto da sua canção e o homem mais vivido puxa os primeiros batuques dos tambores para que a sua canção o acompanhe em sua viagem.
No coração da África, a mulher griot guarda na alma todas as canções de quem viu nascer. No coração da Casa Verde, uma nova canção deverá nascer para celebrar os tambores da África.
Eu vi chegar outra ciranda. Eram os ritmos d’África que conduziam a delirante emoção da Congada ao Rei Tigre. Nesse cordão dos sonhos eu pude entrar no palácio musical de uma África magnífica, soberana, cheia de luzes e tambores azuis que conduzem a felicidade.
Na marcha do Rei Tigre toquei com os guardiões batuqueiros, cuja sabedoria revela qual ritmo deve ser tocado em cada ocasião da vida. Dancei na umbigada do amor. Girei com o jongo da resistência. Batuquei para o Maxixe da plebe. Brinquei no Cortejo do Maracatu.
Quando os irmãos negros falavam que se esqueciam da dor e dos terrores da escravidão, diziam que gingando, cantando, dançando e batucando eles queriam sentir sua África numa saudade de torpor de canções e passos.
Eles me levaram ao navio das afromusicalidades.
Embarcação dos sonhos. Embarcação dos ritmos, dos sons, dos instrumentos que explodiam cores da cultura da África.
O navio atracou nas periferias do Brasil. A África ficou no coração do irmão, e com a passagem dos séculos fincou, no coração do Brasil, uma imensidão de costumes de cultos e de elementos culturais nos ritmos, nas artes musicais e nas danças. Em São Luís do Maranhão balancei com o reggae e brinquei no tambor de Crioula. Em Belém do Pará dancei e remexi com o lundu.
Quando aportei em Salvador girei com a capoeira, toquei no Olodum e segui o cortejo de axé batucando no Afro Ilê Aiyê. No Rio de Janeiro aprendi a gingar com o baile charme e em São Paulo dancei no baile funk. Eu pude ver no coração das periferias do Brasil um processo de hibridização da cultura musical africana com a crescente urbanização das grandes cidades. No trem da periferia desci na Estação Casa Verde. Cheguei novamente ao reino de um Rei Tigre que disse:
“NO QUILOMBO CASA VERDE FAZ MORADA A PAZ E A AFRO-MUSICALIDADE. QUE OS TAMBORES DA ANCESTRALIDADE ESTEJAM COM VOCÊ”.
Se no afrocoração da mulher griot moram infinidades de canções, no coração do Imperiano para sempre vai morar o sorriso de Dona Lucinda, madrinha baiana. Na Case Verde cheguei num Império de tambores iluminados não só por ela. Dona Cleide e Dona Bah, mulheres guardiãs, as griots do samba imperiano se irmanavam, se aplaudiam e celebravam no grande templo o encontro com outras griots de outros quilombos do samba. Na roda de griots cirandavam Dona Ivone Lara, avisando que era para chegar devagarzinho, Elza Soares cantando que amou nascer e ser feliz como mulher do fim do mundo e Clara Nunes vibrando o grito forte de igualdade pelas três raças.
Nessa congada de explosões para o samba, o Rei Tigre declarou que neste cortejo ancestral, o Império dos Tambores, em 2023, montará um grande palco para as três griots paulistanas sambistas: Eliana De Lima, Leci Brandão e Bernadete.
Da África à Casa Verde eu vi este Império dos Tambores.
Eu vi um Brasil Afromusical.
Ainda verei.
No coração da África, a mulher griot guarda na alma todas as canções de quem viu nascer. No coração da Casa Verde, uma nova canção deverá nascer para celebrar os tambores da África.
No meio destas cirandas das emoções, eu vejo o Império de uma comunidade campeã em que seu Rei tigre batucou por todos os negros e ainda vai batucar. Muito.
Batucai, Império, por todos os negros.
Dona Bah Baiana do Império de Casa Verde
Carnavalesco: Leandro Barboza Pesquisa e sinopse: Tiago Freitas Império de Casa Verde 2023
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